quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


SEM SOL

O sol já não dá brilho àqueles dias
Em que vivemos cheios de venturas,
Em que fizemos, juntos, tantas juras,
Hoje, vividos só de nostalgias.

Agora, restam noites muito escuras,
Caídas, sobre nós, pesadas, frias,
Sem mais aquele amor, como dizias,
Ser verdadeiro, cheio de ternuras.

Mas a vida é assim. Tudo acontece,
Cabendo à gente aquilo que merece
Pelos erros ou não que cometeu...

E o sol que iluminava as nossas vidas
Escureceu. E as ilusões perdidas
Juntaram-se, por fim, ao pranto meu.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013






                                                               NAS NUVENS

O voo transcorria na mais absoluta tranquilidade. E da janelinha do avião, tenso, Eduardo, que muito pouco se utilizava daquele meio de transporte, imaginava como era possível a aeronave acertar o rumo do próximo aeroporto, no meio daquela escuridão da noite. Não acreditava que o amontoado de mostradores à frente do comandante e do copiloto, tomando quase toda a visão, servisse para orientá-los no destino da enorme máquina voadora. Não considerava que o voo já havia sido determinado por um plano pré-estabelecido. Tudo estava de acordo com os computadores, nas torres de controle dos aeroportos, como nos aparelhos de bordo, nos próprios aviões.

A maioria dos passageiros ficara em Salvador, primeira etapa da viagem, depois da decolagem, já de noite, do Aeroporto de Cumbicas, em São Paulo. Eram turistas estrangeiros, que também viajavam. O colorido extravagante dos blusões e bermudas revelava. “Diferentes dos brasileiros, que viajam sempre bem vestidos, principalmente ao exterior”. Pensou com seus botões.

Os poucos passageiros restantes se distribuíam pelos assentos da frente. Eduardo preferiu permanecer em seu lugar, na última fileira de trás. Sentia-se mais seguro ali. Viu uma vez na televisão pessoas que sobreviveram a um desastre porque escolheram justamente aqueles lugares.

Sem o falatório das diversas vozes dos “gringos”, num mesclado de línguas diferentes, o ambiente voltou à calma. Na penumbra, destacavam-se alguns pontos de luz individuais acesos. Era um convite à reflexão e até a um breve e bom cochilo. Os olhos de Eduardo pesavam ao efeito das duas doses de uísque que ingeriu, para espantar o medo que o dominava. Mesmo assim se esforçou em acompanhar o vai-e-vem de uma das comissárias pelo corredor.

Com os olhos querendo fechar, forçava-se em encarar a funcionária, elegantíssima dentro do vistoso uniforme da Companhia Aérea, com os seus cabelos castanhos, bem lisos e presos, formando um pequeno “rabo-de-cavalo” atrás da cabeça arredondada. E uma delas correspondia, em lances suaves do seu olhar esverdeado e brilhante, nas suas idas e vindas pelo corredor entre os assentos da aeronave, ao olhar fuzilante de Eduardo, que era um tipo charmoso, dono mesmo de traços de galã de novelas. Era um quarentão numa forma física invejável; de impressionar mesmo o bom gosto feminino.

O avião, que se mantinha em perfeita estabilidade, acabava de entrar numa extensa zona de turbulência. Os avisos luminosos recomendavam “usar cinto e não fumar”. A tripulação também se acomodou em lugares vazios na parte traseira da aeronave, sobrando um assento ao lado de Eduardo, onde Angelina acomodou-se, obedecendo as instruções recomendadas da cabine de comando.

Meio amedrontado, com os olhos quase parados, ele pôs a mão esquerda no braço direito de Angelina, que procurou demovê-lo do susto que tomou.

-- Está com medo? Perguntou-lhe gentilmente a bela funcionária.

Eduardo não acreditou no que estava acontecendo.

-- Não! Um pouco temeroso. Ainda não me acostumei a “voar”, como vocês fazem tão bem! Respondeu Eduardo.

-- Meu nome é Angelina.

-- O meu é Eduardo. Muito prazer...!

-- Isto é normal durante o voo. Não se assuste. Pegue a minha mão e aperte forte. Isso ajuda a espantar o medo. Falou delicadamente no ouvido do seu protegido passageiro, que não acreditou no que ouvia. Ele se desfez do braço de Angelina e entrelaçou seus dedos frios nos dedos quentes e macios da comissária.

-- Será que estou sonhando? Interrogava-se.

Eduardo, envolvido naquela conquista inesperada, esqueceu a noiva, que o aguardava no Recife, com todos os preparativos para o casamento. Casariam na semana seguinte. O voo voltou à normalidade. Angelina, que segurava firme a mão esquerda de Eduardo, passou o dedo indicador de sua mão direita na grossa aliança de ouro, que revelava, na mão direita de Eduardo, o seu compromisso de noivado.

-- Noivo, hein? Meus parabéns! Disse-lhe sorridente.

-- Eu era noivo, Angelina. Respondeu de pronto. E completou:

-- Vá lá, no w.c., por favor, e jogue esta porcaria no vaso sanitário. Retirou bruscamente a aliança do dedo e a colocou na palma da mão de Angelina.

-- Qué, qué isso, meu querido?!

Contrariou a atitude de Eduardo, enfiando a aliança no seu dedo. E, não se contendo, agarrou a cabeça do seu passageiro, trazendo bem perto da sua e lhe beijou a boca ardentemente. Ao mesmo tempo, ele apalpava as suas coxas, forçando a mão por baixo da saia justa de Angelina, em busca de tocá-la mais intimamente. Com o polegar e o indicador da mão direita acariciava os mamilos enrijecidos dos seios pequenos e arredondados, escondidos por trás da blusa do uniforme da comissária. Ela se retorcia na cadeira, extasiada, quase em orgasmo. E retribuía amassando delicadamente o volume genital do parceiro, que crescia a cada toque. E murmurava palavras desconexas, lambendo todo o seu ouvido, tal qual uma felina no cio. O silêncio no interior da aeronave parecia revelar a respiração ofegante dos amantes. Eduardo sentia os batimentos acelerados do seu coração, que pareciam ecoar dentro da tranquilidade que ali reinava.

O soar indesejável de uma campainha, de uma passageira, pedia a presença da comissária.

-- Puta merda! Logo agora. Reclamou, indignada, Angelina.

-- Pronto. Agora, vamos terminar no banheiro. Decidida, ordenou.

Com a blusa totalmente aberta, mostrava os seus lindos seios desnudos, oferecendo-os a Eduardo, que os sugou alternadamente, faminto de desejo, enquanto a comissária se contorcia como uma naja excitada pelo sibilo do flautim dos domadores de serpentes. Naquele reduzido ambiente do w.c. do “Boeing”, ela encontrava meios de se agachar, excitando o companheiro com toques suaves com a sua língua, ao redor de sua glande enrijecida, oferecendo-lhe o mais delicioso sexo oral que já experimentara, sentindo o calor inteiro do interior da boca da comissária, envolvendo todo o seu membro. Contudo, Angelina queria mais. Desejava o orgasmo total para os dois. Queria ser penetrada o mais profundo possível. Implorava, emitindo lascivos gemidos, o que fez lembrar a Eduardo uma cadela no cio.

Eduardo parecia anestesiado. Não sentia mais o pavor de estar ali em cima, nas alturas, nas nuvens, na iminência, como antes imaginava, de uma aterrissagem forçada, ou mesmo de uma catástrofe, sem sobreviventes para contar a história da queda daquele avião. Seu pensamento direcionava unicamente para o corpo de Angelina. Desejava beijá-la também em suas partes mais íntimas, antes já bem manipuladas, sentindo Eduardo, em seus dedos, o líquido viscoso que saía da vulva depilada da linda comissária. Desejava corresponder às carícias que recebia. Mas faltava-lhe habilidade no reduzido espaço, no cubículo do w.c.

No entanto, o sonho acabou... A voz do comandante despertou os passageiros:

-- Senhores passageiros! Dentro de poucos minutos estaremos aterrissando no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife. A temperatura local é de 30 graus... etc etc...

O aviso ressoou por todo o recinto de bordo. O comandante já iniciava os procedimentos de descida da aeronave.

Não chegaram ao clímax, infelizmente, porque alguém tocou no ombro de Eduardo, alertando-o para posicionar verticalmente a sua poltrona. Era uma comissária, que não era bonita nem era Angelina.

-- Puta que pariu! Falou pra si mesmo, cerrando os dentes.

A sua noiva e familiares o receberam com beijos e abraços, no saguão de espera do Aeroporto Internacional do Recife.

(Paulo de Góes Andrade)









quinta-feira, 17 de janeiro de 2013


                                                                   NADA MAIS


- Sim! Já não existe nada. Nada mais
Entre nós dois, como há bem pouco havia
Daquele grande amor que nos unia,
Jurando assim viver, p´ra sempre, em paz.

Foram momentos ternos, de alegria,
Que não pensava se acabar jamais.
E amargurando ressentidos ais,
Não era isto, eu juro, o que eu queria.

Agora, são lembranças, muito poucas
Do fogo que queimava as nossas bocas
No aconchego do amor em nossa cama...!

E tudo, então, são cinzas do passado,
Daquele antigo afeto desterrado
P´ra essa frieza, que não mais se inflama!





segunda-feira, 14 de janeiro de 2013





CANÇÃO DA LUA

A noite chegou,
Escurecendo ainda mais
A minha solidão
Deitando-se sobre o mar
que acordou
E se espraiou nervoso molhando os meus pés frios,
Antes tão quentes pisando o chão que pisávamos juntos.
Ouço agora, só, a canção da lua,
A canção que era dela, que era nossa,
Que me traz recordações infindas
Que se debruçam sobre mim
Como o mar desta noite se lança na praia deserta.
Recordo o passado, neste presente, que está distante,
Ao som mavioso da canção da lua.
Lembro-me da sua voz, agora em mundos distantes,
Cantando dentro de mim:
Lua, luar, quantos peixes tem no mar...?
Quando deixarei de cantar
Para que os meus dias sejam também termináveis,
Sem ela, sem lua e sem mar?
Mas fico a cantar
Lua, luar, quantos peixes tem no mar...?
Escutando o invisível da sua voz
Repetindo comigo
Lua, luar, quantos peixes tem no mar...?